A mídia, na maioria das vezes, nos apresenta dados economicamente negativos, como “o País fecha com um déficit de 702,9 bilhões em 2020”, “desemprego bate recorde no Brasil em 2020 e atinge 13,4 milhões”, “dólar dispara”, fora a falta de unidade, competência e habilidade política em todas as esferas, além da corrupção generalizada que, diga-se de passagem, não é só no governo e pode ser considerada o grande câncer da pátria amada Brasil.
No entanto, pode haver um olhar diferente para um momento econômico único que estamos vivendo: a menor taxa de juros básica da história do País (SELIC) e uma das menores taxa real de juros do mundo. Você não leu errado, temos uma das menores taxa de juros reais do planeta. Em seis anos, saímos da maior taxa do mundo para uma das menores. Em 2015 tínhamos a maior taxa real do mundo: 4,28% a.a., em 2018 estávamos com a sexta maior (2,93% a.a.) e terminamos 2020 com uma das menores taxas de juros do mundo (-2,41%). Isso mesmo, uma taxa negativa, abaixo de países como Estados Unidos, Alemanha, Japão, Espanha entre outros de grande expressividade econômica. Isso ocorreu porque terminamos o ano com a SELIC em 2% e com uma inflação (IPCA) acumulada em 4,52%. 2021 começa com uma taxa ainda menor, devido a uma inflação maior.
E o que isso representa?
Primeiramente, é preciso entender que a SELIC determina o custo do capital de terceiros (das Instituições financeiras). É como se ela fosse o balizador do custo da Matéria-Prima dos bancos (dinheiro). Então, podemos concluir que esse custo está muito baixo e, com isso, o preço de seus produtos também estão mais baixos (empréstimos e financiamentos). Um ponto importante a ressaltar é que as taxas que chegam aos consumidores de capital são bem maiores que essa, pois bancos colocam sua margem (o chamado spread bancário) para cobrir suas despesas operacionais, inadimplência, impostos e lucro. Por isso, as taxas variam muito de acordo com o risco da operação, prazos e garantias. Vale ressaltar que em algumas operações, somente os impostos e a inadimplência representam metade do valor que pagamos de juros.
O fato é que diante do custo baixo do dinheiro há um efeito dominó, pois poupadores começam a não ter ganhos atrativos no mercado financeiro de renda fixa, pois se o banco tem um custo de 2% ao ano para captar dinheiro, vão pagar algo próximo desse percentual para você deixar o dinheiro aplicado e, é claro, essa situação deixa investidores sedentos por empreendimentos, pois os negócios geram retornos muito maiores que esse. Além disso, para o empreendedor nesse cenário, uma rentabilidade menor se torna atrativa para buscar sócios investidores. Então, além de poder buscar dinheiro em instituições financeiras a um custo bem mais baixo, com algumas linhas de créditos subsidiadas pelo governo, o empreendedor (ou o futuro) pode buscar pessoas que desejam maior retorno ao capital “parado”.
E a COVID-19?
Ela não será para sempre e ainda podemos olhar para os quase 10.000.000 de brasileiros que já se recuperaram e até julho teremos praticamente o grupo de maior risco vacinado. Em breve temos tudo para retomar, ainda que aos poucos, a vida à normalidade.
Quer outro motivo?
''...o mercado para quem sobreviveu, quer retomar, ou mesmo começar a empreender, apresenta menos concorrência...''
Em função das recessões de 2015 e 2016, com os baixos crescimentos de 2017 a 2019 e com a pandemia, nossa economia hoje está 25% menor do que estaria se tivéssemos mantido o ritmo de 2000 a 2014 e, portanto, ela precisa e será reconstruída e isso por se só já representa uma grande oportunidade aos empreendedores. Somente a pandemia encerrou mais de 700 mil estabelecimentos em todo o país. Triste, lamentável e de grande impacto, inclusive social, mas o mercado para quem sobreviveu, quer retomar, ou mesmo começar a empreender, apresenta menos concorrência.
Portanto, o momento que estamos vivendo é extremamente favorável para desengavetar projetos, criar empresas, fomentar o empreendedorismo e, principalmente, gerar empregos, pois somente com produção e produtividade iremos retomar melhores níveis de emprego, gerar renda, diminuir o déficit público e buscar o crescimento econômico novamente. Os números de empresas abertas em janeiro e fevereiro de 2021 da JUCESP em algumas regiões, já mostra esse movimento.
''...em momentos de prosperidade econômica, muitos fracassam, mas em momentos desafiadores, muitos evoluem...''
Agora, se você prefere olhar pelo lado sensacionalista de grande parte da mídia e pensar que somente em 2022 teremos todos vacinados e ficar esperando até lá para agir, inovar e criar suas oportunidades, só iremos retardar a nossa retomada e é muito importante haja a consciência: enquanto muitos esperam, outros prosperam, até porque em qualquer momento econômico, o que se vê de indicadores econômicos é o que está acontecendo na média, pois em momentos de prosperidade econômica, muitos fracassam, mas em momentos desafiadores, muitos evoluem e são esses empreendedores que irão ser a alavanca para mover o Brasil (e o mundo) para um lugar melhor.
Liandro Fabri
Sócio da AFBR Group Desenvolvimento Corporativo e Humano
Consultor Financeiro na Fabri Consultoria
Adriano Fabri
Fundador e Diretor da AFBR Group Desenvolvimento Corporativo e Humano
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